ARTIGO

Um líder como Deus quer

Um líder como Deus quer

Prof. Dr. Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo Biblista, teólogo e assessor da Comissão Bíblica Diocesana – Jales

Prof. Dr. Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo Biblista, teólogo e assessor da Comissão Bíblica Diocesana – Jales

Publicada há 1 ano

No mês de setembro, que acabamos de deixar para trás, a Igreja Católica propôs aos seus fiéis e às pessoas de boa vontade, a reflexão do livro de Josué, presente no Antigo Testamento. Esse livro apresenta-nos uma figura muito especial, justamente, aquele personagem que dá nome à obra: Josué. Esse nome significa, em hebraico, “O Senhor salva”. Aliás é o mesmo significado do nome “Jesus”. 

O que mais nos chama a atenção na pessoa de Josué é a sua capacidade de liderança! Sem entrarmos no mérito e na questão se a ocupação da terra de Israel pelos hebreus se deu ou não da maneira narrada no livro de Josué, nos concentremos nas características e qualidades do personagem Josué. A liderança pode ser inata, isto é, ser própria do caráter e da personalidade de um ser humano como, também, pode ser algo que se adquire com prática, estudo e esforço pessoal. A liderança exercida por Josué é fruto de um longo aprendizado no deserto, ao lado do líder por excelência: Moisés. Em sua caminhada de libertação do Egito, Moisés contou com o apoio de Josué: a) no combate às tribos dos amalecitas, que eram muito perigosas (cf.: Ex 17,8-16); b)na recepção dos mandamentos divinos, no monte Sinai, ponto alto da aliança de Deus com os hebreus (cf.: Ex24,12-13); c) para lidar com a rebelião do povo contra Deus e contra ele mesmo (cf.: Ex 32,17); d) para guardar a “Tenda do Encontro”, espécie de santuário móvel do povo no deserto (cf.: Ex 33,11); e) na realização de uma perigosa tarefa, ou seja, espionar a terra de Canaã e seus habitantes (cf.: Nm 13,1-2.16). Tudo isso lhe serviu para conquistar a confiança de Moisés e, principalmente, do próprio Deus: “Toma Josué, filho de Nun, homem no qual há espírito, e impõe a mão sobre ele” (Nm 27,18). Em consequência, Josué recebe a missão de tornar realidade a herança da terra para o povo (cf.: Dt 1,38; 3,28), bem como, juntamente com o sacerdote Eleazar, repartir a terra que Deus concederia à sua gente (cf.: Nm 34,16-17).

Para ser líder, segundo a Bíblia, Josué demonstrou estar cheio do “espírito de sabedoria”, que é próprio de Deus, fruto da imposição das mãos de Moisés (cf.: Dt 34,9). A origem e a causa da sabedoria é Deus (cf.: Sr1,1.8-10). Sabedoria, nesse caso, pode significar tanto a competência/habilidade para exercer a sua tarefa de conduzir o povo para dentro da terra prometida, bem como, repartir essa terra entre todas as tribos. Mas, também, sabedoria possui uma dimensão ética imprescindível. Na esfera da moralidade, a sabedoria é equiparada à prudência, sensibilidade, honestidade e justiça. Desse modo, a pessoa sábia é aquela capaz de tomar decisões éticas diante de Deus e dos seres humanos. Por isso, o sábio é identificado com o justo (cf.: Pr 9,9; 11,30), em oposição a quem é tolo e perverso (cf.: Pr 6,12; 11,20; 17,20).

Mas qual era o segredo da liderança de Josué? Podemos identificar, no livro, os seguintes traços dessa liderança: 1º)Força e Coragem: por bem quatro vezes, em um só capítulo, Deus recomenda a Josué que seja forte e corajoso (cf.: Js1,6.7.9.18), isso supõe que a pessoa não pense em si mesma, em primeiro lugar! Cabe, aqui, as palavras de Jesus: “Quem ama a sua vida perde-a; mas quem se desapega de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna” (Jo 12,25). Quem tem medo não consegue realizar a obra de Deus neste mundo! Quantos deixam seus dons e suas qualidades inutilizados por medo, por insegurança, por timidez (cf.: Mt 25,24-30). 2º)Fidelidade à Lei, à Vontade de Deus:diariamente, Josué meditava na Lei do Senhor (Js 1,8); ele a seguia, levava a Palavra de Deus em consideração em suas decisões (Js 11,15); era um homem de oração (Js 7,6-9). Como Jesus declarou de modo inequívoco: “E, estendendo a mão para os discípulos, acrescentou: ‘Eis minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’” (Mt 12,49-50 // Mc 3,34-35 // Lc 8,21).3º)Organização e Planejamento:nada é feito de improviso, sem pensar e refletir bem, vejamos:Js 1,10-11 (preparação de mantimentos para a viagem); Js1,14-15 (os guerreiros atravessam primeiro o Jordão, deixando abrigados as mulheres, crianças e animais); Js2,1 (antes de qualquer ação, reconhecer bem o terreno e as pessoas); Js3,1-6 (a arca da Aliança vai à frente do povo, como guia, motivação religiosa e esperança).4º)Respeito de seus Liderados:algo fundamental para uma liderança bem sucedida é conquistar o respeito e admiração de seus liderados. As suas ordens, as suas orientações eram, na maioria das vezes, observadas e realizadas: “Faremos tudo quanto nos ordenaste e iremos para onde quer que nos envies. Assim como em tudo obedecemos a Moisés, também obedeceremos a ti. Basta que o Senhor, teu Deus, esteja contigo, assim como esteve com Moisés” (Js 1,16-17; cf.: Js 22,1-2; 24,15-18.31).

Aprendemos de Josué algo já bem conhecido, mas pouco levado em consideração: “A palavra convence, o exemplo arrasta”. No livro de Josué, em seu último capítulo, há uma questão fundamental para todos nós: “Escolhei hoje a quem quereis servir... Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24,15). E você a quem quer servir? Ao Deus da vida, do amor, da paz, do perdão, da misericórdia, da justiça, dos pequenos e pobres, dos famintos e esquecidos, ou aos ídolos, aos falsos deuses que criamos com tanta facilidade: poder, riqueza, fama, aparência...

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