ARTIGO

Mateus: evangelho do verdadeiro Messias (Parte 1)

Mateus: evangelho do verdadeiro Messias (Parte 1)

Prof. Dr. Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo Assessor da Comissão Bíblica Diocesana Diocese de Jales – SP

Prof. Dr. Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo Assessor da Comissão Bíblica Diocesana Diocese de Jales – SP

Publicada há 1 ano

A Igreja Católica propõe, em sua liturgia dominical, a leitura quase que contínua dos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) durante três anos consecutivos denominados de Ano Litúrgico A, B e C. Desde o advento iniciado no domingo 27 de novembro do ano passado, adentramos no Ano Litúrgico A, o qual se dedica a ler e meditar o Evangelho Segundo Mateus.

Os evangelhos surgiram como resposta das primeiras comunidades cristãs, no século I da era cristã, às questões levantadas nas relações: [a] no interior das comunidades, [b] com as comunidades judaicas ligadas à sinagoga ou [c] com o ambiente social e cultural romano da época. Esses escritos, os evangelhos, não tinham a intenção de ser uma biografia completa de Jesus, mas um esforço de repensar a fé, à luz da vida e da pregação do Cristo, diante de tantas ameaças e problemas que atingiam o cristianismo das origens. As duas principais ameaças eram a dispersão das comunidades e o desaparecimento das mesmas. Pois era extremamente complicado as pessoas acreditarem em uma salvação oferecida por um Crucificado! Pois, o condenado à cruz era considerado um maldito de Deus, na mentalidade dos judeus e o pior dos malfeitores, na mentalidade romana.

Cada evangelho, portanto, dará suas respostas, segundo a realidade específica na qual aquela comunidade vive. A comunidade na qual originou-se o Evangelho de Mateus é predominantemente constituída por judeus convertidos ao cristianismo. O local não é bem certo, há possibilidade de ser na Palestina, no sul da Síria ou em um lugar onde o judaísmo fosse marcante. Existe uma tendência de localizar a comunidade mateana em Antioquia da Síria, a capital oriental do Império Romano. Mateus procurará, então, entender a fé em Jesus, o Nazareno, à luz da tradição religiosa de Israel, uma vez que ele se comunica com judeus.

Ao mesmo tempo que Jesus representa uma continuidade em relação à religião de Israel, o judaísmo, preservando a sua essência, ele realiza uma ruptura com o passado! Isso fica claro em Mateus 5,17: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas levá-los à plenitude”. A passagem de Mateus 5,21-48 concretiza essa intenção de Jesus: “Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo”. Portanto, diante de judeu-cristãos com uma firme tendência a serem reacionários diante do Cristo e a novidade que ele representa, Mateus, com equilíbrio, vai apresentando um Messias: [1] livre diante das tradições religiosas de seu povo (sábado, ritos de purificação, costumes e tabus religiosos); [2] que ensina com autoridade, bem diferente dos respeitadíssimos doutores da Lei (cf. Mt 7,29); [3] liberta os seus discípulos do legalismo, do apego às normas pelas normas; [4] com isso, ele revela a “alma” da Lei, o “essencial” da fé que é o amor, o bem que fazemos aos outros. Resumindo, Mateus nos revela um Cristo que se pauta pela continuidade, ruptura e plenificação do judaísmo do qual ele provém.

Em uma grande síntese, Mateus apresenta as seguintes respostas aos seus três maiores desafios, vejamos:


(O artigo continua na próxima edição)

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